De que adianta ter sido um dos maiores compositores de todos os tempos, um dos maiores gênios da humanidade, se o reconhecimento vem de maneira equivocada? Já repararam o que tem de condomínio chamado Mozart? São construções das mais diferentes categorias: conjuntos populares, torre comercial, condomínio de casas. Quando o prédio é de padrão mais alto ou tem a fachada neoclássica, o nome varia para Condominium Amadeus. Nunca entendi por que colocar condomínio em algo parecido com latim. É só para dificultar a vida do porteiro. Se o meu nome fosse usado para batizar obras de excelência arquitetônica, ficaria feliz. Mas nomeando caixas de concreto sem graça, eu preferiria que usassem o nome do Salieri.
No entanto, o que mais me aborrece não é ter meu nome utilizado como marca de chocolate, licor ou nome de edifício. O que me incomoda é ter meu repertório quase todo (e olhe que são mais de 600 obras) vertido para a música de elevador. Aliás, a música de elevador talvez seja, de todos os gêneros musicais, o mais inusitado, porque é uma música pensada para não ser ouvida. Quanto menos notada, mais ela realiza a sua vocação. Em geral, para se fazer uma música de elevador, uma composição famosa é rearranjada (ou desarranjada, se preferir) para que seja reconhecida, mas não notada. Ela é fruto de uma mente engenhosa que achou que seria um pesadelo você ficar subindo ao seu andar ou enchendo o carrinho do supermercado tendo que ouvir os ruídos do ambiente. Então, neste momento, para preencher esse terrível silêncio, começa a soar Eine Kleine Nachtmusik, versão tecladinho Casio, passado no liquidificador.
Gostaria de saber quem produz essas versões e que gerente-financeiro as compra. Será que se trata de um programa de computador capaz de transformar em segundos uma obra-prima em encheção de linguiça sonora? Ou será que há músicos de verdade contratados para executar (no sentido literal) as versões para elevador? Neste último caso, até imagino a seleção do pessoal:
– Você está demitido.
– Por quê?
– Fechou os olhinhos enquanto executava Flauta Mágica.
O problema é que esse gênero musical não me coloca ao lado de Bach, Beethoven e Schubert, mas sim de Richard Clayderman e Kenny G.
Dia desses, fui fazer uma massagem e lá estava eu sendo executado conjuntamente com o ruído de cachoeiras e pássaros. A massagista perguntou:
– O que senhor tem? Está tão tenso.
– É essa maldita música relaxante.
terça-feira, 5 de maio de 2009
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Bach! guri Mozart! Como diria Mussum (faz um blog do além do Mussum!), quando tu tava Vivaldis da silva, tu não pensou nisso, né? Agora se revira aê. Mas antes escutar isso no tecladinho Casio do que ser quase totalmente surdo como o camarada Beethoven. Ou não.
ResponderExcluirA Música Clássica faz muito a alma e ao corpo.
ResponderExcluirPois, faz o Espírito voltar momentâneamente aos paraísos mais profundos do Universo Celestial.
Saudamos ao grande Espírito de Mozart.
Jeová Ferreira
é a mente domada pelos padrões bestializantes do presente que não consegue suportar a complexidade dos grandes mestres da música clássica.
ResponderExcluirVí o seu blog na carta capital, achei super bacana o texto.
ResponderExcluirUm beijo e sucesso com o blog.
Vi também! hehe.
ResponderExcluirRilitros.
Música de elevador com música clássica é o pior. Eu sempre presto atenção, acho que infelizmente. 0.o' Mas antes isso que ser surdo.
carta capital popularizando o site, também vi o blog lá.
ResponderExcluirTá reclamando de ter seu nome em condomínios? Menos mal. Se tivesse nascido no nordeste do Brasil você se chamaria, provavelmente, 'Mozarzim do acordeão'.
ResponderExcluirMuito pior é usarem suas músicas durante a espera em chamadas telefônicas.
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